Augusto Boal nasceu em 1931, no bairro da Penha no Rio de Janeiro.
Através de sua experiência norte-americana, Boal adapta o método Stanislavski às condições brasileiras e ao formato de teatro de arena, dando corpo há uma interpretação naturalista nunca antes experimentada no país. Isso despertou no grupo uma visão ideológica esquerdista, fator esse, predominante, na investigação dramatúrgica e interpretativa das discussões e reivindicações nacionalistas. Para seguir com uma investigação tão peculiar da realidade brasileira, Boal sugere a criação de um Seminário de Dramaturgia. Paralelo a isso, avançam a Bossa Nova e o Cinema Novo, o Brasil vivia um momento de valorização do “tudo nacional”.
Considerado um dos melhores encenadores e um grande ideólogo no panorama paulista, Boal inicia uma investigação voltada para o teatro de Bertold Brecht, que trata de formas não realistas inspiradas nas tradições cômicas e populares a serviço de um esmagador protesto político-social. Após enfrentar os altos e baixos com Arena, inicia uma fase de nacionalização dos clássicos. Boal, já sem a companhia de Zé Renato, vê anos mais tarde uma efetiva ação do golpe militar, o que o motiva a ir ao Rio de Janeiro dirigir o show Opinião, com Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão (depois substituída por Maria Bethânia).
Assista ao vídeo de Maria Bethânia.
A iniciativa surge de um grupo de autores ligados ao Centro Popular de Cultura da Une – CPC, posto na ilegalidade - Oduvaldo Vianna Filho, Paulo Pontes e Armando Costa reúnem-se no intento de criar um foco de resistência à situação. O evento torna-se sucesso instantâneo e contagia diversos outros setores artísticos, aglutinando artistas ligados aos movimentos de arte popular. Nascia aí o Grupo Opinião.
Ao retornar de São Paulo, Boal encontra o grupo Arena na reconstrução do histórico episódio Quilombo de Palmares, é nesse momento que se inicia o ciclo de musicais na companhia, dando ao grupo uma nova linguagem.
Em 1965, o Arena experimentou um novo formato de trabalho, onde oito atores revezavam-se entre todas as personagens teatralizando cenas fragmentadas e independentes, enquanto um ator coringa tem a função narrativa de fazer as interligações, as cenas ganhavam um aspecto de grande seminário dramatizado é a partir desse formato que Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Edu Lobo dão forma ao Arena Conta Zumbi. A música é primordial para o espetáculo, estabelecendo uma conexão entre as cenas, e a trama é generosamente presenteada com tons líricos ou exortativos. A bem-sucedida realização e o sucesso de público determinam novas versões de Arena Conta..., que resultam na teorização do método. No mesmo ano Boal escreve e dirige Arena Conta Bahia, direção musical de Gilberto Gil e Caetano Veloso, com Maria Bethânia e Tom Zé no elenco. Segue-se o texto Tempo de Guerra, seu e de Guarnieri, pelo Oficina, construído com poemas de Brecht, com Gil, Maria da Graça (Gal Costa), Tom Zé e Maria Bethânia, sob sua direção.
A primeira feira Paulista de Opinião concebida e encenada por Boal no Teatro Ruth Escobar trata-se de uma reunião de textos curtos de vários autores, depoimento teatral sobre o Brasil de 1968. Estão presentes peças de Lauro César Muniz, Bráulio Pedroso, Guarnieri, Jorge Andrade, Plínio Marcos e Boal. O diretor apresenta o espetáculo na íntegra, ignorando os mais de 70 cortes estabelecidos pela Censura, incitando a desobediência civil. Luta arduamente pela permanência da peça em cartaz depois de sua proibição. No mesmo ano, segue-se Mac Bird, de Barbara Garson, uma transposição de Macbeth, de Shakespeare, para o universo norte-americano.
Com a decretação do Ato Institucional nº 5 em fins de 1968, o Arena excursiona pelos Estados Unidos, México, Peru e Argentina. Boal então escreve e dirige Arena Conta Bolivar, inédita no Brasil, que soma ao antigo repertório. Ao retornar com uma equipe recém saída do Arena, Boal cria o Teatro Jornal, e o grupo demonstra um talento e vigor tão surpreendente que tornam-se o Teatro Núcleo Independente, com uma grande relevância na periferia paulistana dos anos 1970. Porém, o que o Arena não esperava, entretanto, era que seu líder fosse no ano de 1971 preso, torturado e exilado, passando agora a residir na Argentina. Aproveitando-se de sua estadia com os hermanos, Boal dirige o grupo “El Machete”, de Buenos Aires, e monta de sua autoria “ O grande acordo internacional do tio Patinhas”, “Torquemada”e “Revolução na América do Sul”. Inicia intensas viagens por toda América Latina onde começa a desenvolver a estrutura teórica dos procedimentos do Teatro do Oprimido. Em 1976 muda-se para Lisboa onde dirige o grupo A Barraca, realizando a montagem A Barraca Conta Tiradentes (1977). Dois anos mais tarde é convidado para lecionar na Université de la Sorbonne-Nouvelle, e a partir de 1978 estabelece-se em Paris criando um centro para pesquisa e difusão do Théatre de I ´Opprimé – Augusto Boal. Com a anistia retorna em 1984 ao Brasil onde aplica cursos e desenvolve atividades ligadas ao oprimido, não só no Rio de Janeiro, mas em cidades pelo mundo inteiro, como Nuremberg, Wuppertal e Hong Kong. No Brasil, após seu regresso, dirige o musical O Corsário do Rei, texto de sua autoria, com músicas de Edu Lobo e letras de Chico Buarque em 1985; Fedra, de Jean Racine, com Fernanda Montenegro no papel-título. No ano de 1986, Boal junto a outros artistas populares cria o Centro do Teatro do Oprimido-CTO-Rio, desenvolve projetos com Ong's, sindicatos, universidades e prefeituras. Em 1992 candidata-se e é eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo PT. Após transformar um espectador em ator com o teatro do oprimido, Boal transforma o eleitor em legislador. Utilizando o teatro como política, em sessões solenes e simbólicas. Encaminha à câmara de vereadores 33 projetos de lei, dos quais 14 tronam-se leis municipais. Há cerca de um mês recebeu uma homenagem na sede da Unesco em Paris quando foi nomeado embaixador de teatro. A principal criação de Augusto Boal, o teatro do oprimido, é hoje uma realidade mundial, sendo a metodologia mais conhecida e praticada nos cinco continentes.
Sem dúvidas, Boal foi um homem muito a frente do seu tempo, sua representatividade, não só para o teatro brasileiro, mas em todo o mundo, é de suma importância. É bom para um ator saber que tudo é possível e que ideologias servem para manter vivas as nossas esperanças, com a certeza que o teatro sempre vai nos proporcionar a sensação de que poder viver todos os amores, tristezas e prazeres. Sendo assim, jamais deixemos que as barreiras do preconceito e a banalização de nossa arte, venham novamente proferir discursos retrógrados, estipulados por convenções que só aleijam o teatro.
Obrigado Boal, por nos deixar essa herança cultural, que só contribuirá pra o crescimento de nosso teatro brasileiro.
Espetáculos:
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Cronologia 1949/1950 - Rio de Janeiro RJ - Curso de química na Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ 1956 - Nova York (Estados Unidos) - Curso de dramaturgia e direção na Universidade de Columbia 1967 - São Paulo SP - Prêmio Molière pela criação do Sistema Coringa 1981 - Paris (França) - Officier de L'Ordre des Arts et des Lettres - Ministério da Cultura e Comunicação da França 1994 - Medalha Pablo Picasso - Unesco 1995 - Gauting, Baviera (Alemanha) - Prix Culturel - Institut Für Jugendarbeit 1995 - Queensland (Austrália) - Outstanding Cultural Contribution - Academy of the Arts, University of Technology 1996 - Götemborg (Suécia) - Cultural Medal for Creative Arts - Götemborg University 1997 - Estados Unidos - Lifetime Achievement Award - American Association of Theatre in Higher Education 1998 - Barcelona (Espanha) - Premi D´Honor, Institutet de Teatre 1998 - México - Premio de Honor, Instituto de Teatro de México 2001 - Londres (Inglaterra) - Doctor Honoris Causa in Literature - Queen Mary University of London 2002 - Rio de Janeiro RJ - Baluarte do Samba, oferecido pela Escola de Samba Acadêmicos da Barra da Tijuca 2003 - Nova York (Estados Unidos) - Proclamação do Dia do Teatro do Oprimido (Proclamation of the Theatre of The Oppressed Day) - 7 de maio 2004 - Rio de Janeiro RJ - Medalha João Ribeiro, Academia Brasileira de Letras 2005 - Prêmio Chico Mendes - Tortura Nunca Mais 2005 - Rio de Janeiro RJ - Medalha Tiradentes, da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro 2005 - Santo André SP - Cidadão Santo André - Câmara Municipal de Santo André 2009 - É nomeado embaixador mundial do teatro pela Unesco |
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Fontes de Pesquisa BOAL, Augusto. Currículo enviado pelo diretor. BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977. CENTRO de Teatro do Oprimido-Rio. Disponível em: [http://www.ctorio.org.br]. CAMPOS, Cláudia de Arruda. Zumbi, Tiradentes. São Paulo: Perspectiva: Edusp, 1988. DIONISOS - Teatro de Arena. Rio de Janeiro: MEC-SNT , nº 24, out. 1978. MAGALDI, Sábato. Um palco brasileiro, o Teatro de Arena. São Paulo: Perspectiva, 1984. MICHALSKI, Yan. Augusto Boal In: Pequena enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, 1989. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. MICHALSKI, Yan. O teatro sob pressão. Rio de Janeiro: Zahar, 1985. _______________. O palco amordaçado. Rio de Janeiro: Avenir, 1981. MOSTAÇO, Edelcio. Teatro e política: Arena, Oficina e Opinião. São Paulo: Proposta, 1982. SANTOS, Renata. A sombra de Carmem. Bravo, São Paulo, n. 20, p. 130-7, maio 1999. TEATRO do Oprimido (Internacional). Disponível em: [http://www.theatreoftheoppressed.org/en]. |
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